BRASIL: A arrancada da Camargo

O Brasil já importa até cimento. Para atender à demanda, a gigante Camargo Corrêa, dona da marca Cauê, planeja aquisições no Nordeste e investimentos de R$ 3,6 bilhões

Por Crislaine Coscarelli

A indústria brasileira de cimentos sempre defendeu com unhas e dentes o seu mercado. A estratégia era simples: abrir mais fábricas do que o necessário, baixar o preço e, assim, barrar a entrada de competidores estrangeiros. Durante muito tempo, isso deu certo. 

Nos últimos anos, entretanto, as empresas brasileiras, quem diria, passaram a pedir socorro a seus competidores internacionais. Isso porque o aquecimento do mercado imobiliário e as obras de infraestrutura fizeram surgir um fenômeno: a falta de cimento. 

 

"Teremos duas novas plantas industriais instaladas até o ano de 2015"

Humberto Farias, presidente da Camargo Corrêa cimentos  

 

Até o fim do ano, o País deverá ter produzido 57,8 milhões de toneladas e importado um milhão de toneladas. O montante trazido do Exterior é relativamente pequeno, mas indica que as empresas nacionais estão sobrecarregadas. 

 

Isso, porém, não quer dizer que estão paradas. Com faturamento de cerca de R$ 2,2 bilhões, a Camargo Corrêa Cimentos traçou uma estratégia para ganhar mercado rapidamente. 

 

Além de construir novas linhas de produção, a empresa estuda a compra de concorrentes. O mercado aposta que a noiva na mira da Camargo Corrêa seria a Cimentos Nassau, do Grupo João Santos. Humberto Farias, presidente da Camargo Corrêa Cimentos, nega que tenha procurado o conglomerado pernambucano, mas deixa explícito o interesse na companhia. “Seria a junção perfeita. Eles têm atuação forte nos mercados do Norte e do Nordeste, os que mais nos interessam nesse momento”, disse Farias à DINHEIRO. “As duas empresas se complementariam geograficamente.” 

 

De uma hora para outra, a Camargo Corrêa passaria de uma produção anual de 5,1 milhões de toneladas para 11,5 milhões de toneladas. Mais: saltaria para a segunda posição de mercado, com uma participação de 21%.

 

Atalho: com a compra de 31% da portuguesa Cimpor, a Camargo Corrêa

Cimentos conquistou a terceira posição do mercado 

 

O interesse na concorrente não é repentino. Desde 2009, quando o fundador do grupo, João Pereira Santos, morreu, as disputas internas pelo comando do conglomerado fizeram com que os concorrentes mirassem na Cimentos Nassau. 

 

Além da Camargo Corrêa Cimentos, entre as interessadas na compra da Nassau figuram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Cementos de México (Cemex). Procuradas, as empresas não se pronunciaram sobre o assunto. 

 

No caso da Camargo, o interesse pela concorrente existe porque o Norte e o Nordeste registram crescimentos de 66% e 16%, respectivamente, enquanto o restante do País anota um salto de 14,8%. Além disso, a empresa possui apenas uma moagem produtora de apenas 300 mil toneladas, localizada em Pernambuco. Já a Cimentos Nassau conta com 12 plantas industriais. Enquanto o negócio não é concretizado, a Camargo Corrêa Cimentos anunciou investimentos de US$ 500 milhões para a instalação de duas novas fábricas, uma em cada região. 

 

 

 

No Norte, espera vencer a licitação para a instalação da planta que atenderá à usina de Belo Monte, no Pará. “Mas ficará próxima da usina”, afirma Farias. Já no Nordeste, a empresa negocia a instalação com os Estados de Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. O problema é que cada planta precisa de, no mínimo, quatro anos para começar a operar – três para  a construção e mais um para a obtenção do licenciamento ambiental.  

 

Hoje, a empresa possui sete unidades fabris espalhadas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, além de unidades de concreto espalhadas pelo País. 

 

A companhia, entretanto, tem estudado uma forma de ampliar a produtividade nas linhas já existentes. Para isso, anunciou investimentos de R$ 3,6 bilhões até 2016. O plano possibilitará o aumento do volume de produção da empresa em 75%, chegando a 14 milhões de toneladas. 

 

A meta da empresa é alcançar a segunda posição do setor custe o que custar. E, a julgar pelos últimos movimentos, a Camargo Corrêa Cimentos tem trabalhado para isso. Até o início do ano, a companhia ocupava a quarta posição no ranking das maiores produtoras do País. 

 

Em fevereiro, chegou ao terceiro lugar ao comprar 31% da Cimpor, a maior produtora de cimentos de Portugal com unidades espalhadas pelo Brasil. Além de ganhar mercado, a estratégia serviu para barrar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), uma novata no setor de cimentos que pretendia comprar a empresa portuguesa. 

 

 

 

A Votorantim, outra companhia que entrou no páreo, ficou com uma fatia de 21,2% da Cimpor e a CSN saiu derrotada da disputa, sem nenhuma participação. Essa movimentação reflete a alta expectativa das empresas do setor. 

 

“Historicamente, o setor crescia a uma média de 5% ao ano”, diz José Otávio Carvalho, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). “De 2006 para cá, passou a ser de mais de dois dígitos. 

 

Não vejo possibilidade de a demanda retrair no futuro.” Para analistas do setor, os investimentos previstos pelas indústrias de cimento elevarão a produção nacional em cerca de 40 milhões de toneladas até 2016. “O setor deve receber um total de R$ 15 bilhões em investimentos na ampliação da capacidade produtiva”, diz Thaís Virga, analista da consultoria Lafis.